Nada é o que se espera na Patagônia

Bom, esse título está meio exagerado, mas é isso mesmo!!! Aqui o clima muda rápido e é preciso estar preparado. Há uma previsão de chuva, mas de repente tudo mudo, e vem muito sol. Difícil planejar tudo o que se quer fazer na Patagônia com muita antecedência: o vento e a chuva podem obrigar a mudar tudo.

Outra coisa importante, estamos falando de uma região remota, a rota pelo Google Maps ou qualquer outra mapa, pode mostrar uma linha amarela bonitinha, e quando se chega lá, se descobre que metade é terra, o famoso “rípio” que pode ir desde uma terra batida até pedras bastante grandes e soltas. O segredo é andar com calma, sem pressa, sem olhar no relógio.

No meio corporativo é comum dizer “até a meia noite ainda é hoje”, para quando temos que fazer um entrega que o prazo está apertado. Engraçadamente aqui na Patagônia isso é muito válido, nessa época do ano escurece quase as 22:00, o que aumenta muito o tempo que temos para pedalar. O segredo é ir com calma, desfrutar do caminho, conhecer pessoas e ter o sol como seu relógio, se está escurecendo, literalmente está tarde a beça.

Outro ponto importante é que as vezes planejamos uma coisa e não nos damos conta de quão pesado será o trajeto. Uma coisa que eu percebi é que no Google Maps nem tudo está atualizado. Logo no início haviam trechos em que eu achava que não haveria nada, mas quando h

Então vamos lá, o que se faz no caminho????

Uma viagem de bicicleta é uma experiência única. É uma maneira de viajar, em que se desfruta não somente o destino, mas também o caminho. É uma viagem para aproveitar pequenas coisas. Num lugar como a Patagônia temos um bônus: a grandeza dos lugares nos faz ver como somos pequenos e insignificantes perante coisas tão grandes e belas! O ritmo da viagem também lhe deixa sozinho em muitos momentos, é nessas horas que a minha mente começa voar. Desde muito pequeno falo sozinho quando preciso organizar as ideias, então aqui não foi diferente: a viagem foi recheada de inúmeros discursos entre mim e eu mesmo. Sobre os mais diversos assuntos! De filosofia a estatística passando por tudo o que há no meio do caminho.

Para mim, essas reflexões nos fazem olhar as coisas em outra perspectiva. É muito bom olhar situações com outra perspectiva, por outros ângulos. Quantas vezes não somos insistentes em uma opinião ou uma ação que nos incomoda, e nos recusamos a mudar de ideia, nos recusamos a ver as coisas por outro lado. Nessa viagem tive a oportunidade de revisitar diversas situações e olhá-las por outro ângulo, olhar pelo lado do outro. Isso me fez ver que muitas vezes relevar as coisas é mais importante do que estar certo e ter a nossa opinião prevalecida.

O fato de eu ter planejado essa viagem cuidadosamente e já nos primeiros minutos de rolê ter percebido que precisaria de adaptações me mostrou o quão é importante essa reflexão. Para ficar claro, eu fiz a viagem usando apenas bagageiros dianteiros, isso fez a bicicleta ficar bem difícil de guiar e render. Percebi isso nos primeiros minutos de pedal. Depois do primeiro lago do Cruce Andino, no “ripio”, percebi que a coisa estava mais complicada do que eu imaginava. Em outras épocas eu seguiria com o roteiro, não mudaria nada pois “ESTE FOI O PLANO”. A verdade é que o plano era uma viagem de reconexão, a rota os lugares isso sim podia mudar. Olhar as coisas por outra perspectiva me facilitou mudar esses planos durante a viagem.

Foi importante entender que o tempo passa e que as coisas mudam. Isso sempre foi evidente, é obvio, não tenho síndrome de Peter Pan, por achar que vou estar sempre na flor da idade. Mas as minhas últimas grandes cicloviagens tinham sido há quase 10 anos, retomar essa experiência aos 42, depois de quase 3 anos de pandemia e sem treinar tanto últimamente mostrou que, o Igor de hoje ainda dá um bom caldo, mas que as coisas funcionam de forma diferente. Sou mais analítico e cauteloso, o corpo demora um pouco mais para se recuperar, faço mais planos e menos impulso. Tudo isso é maravilhoso, tudo isso me mostra que o Igor de 10 anos atrás segue aqui, mas ao mesmo tempo o Igor do presente definitivamente é outra pessoa.

Em diversos momentos, enquanto a minha mente voava em pensamentos mil, me questionei o que me leva a cair no mundo, caindo de cidade em cidade montado numa bicicleta. Lembrei muito de meu pai. Na minha infância, fizemos várias viagens dessa maneira, de carro claro, mas o roteiro de conhecer diversos lugares e seguir estava ali. Meu pai, em seu tempo de solteiro, também fez várias viagens assim, de carro também, mas conhecendo lugares e deixando as coisas acontecerem como o acaso mandava. Até hoje ele me conta de suas viagens ao sul, no seu primeiro fusquinha. É interessante olhar para este senhor de 82 anos e imaginar um jovem sem destino definido andando por aí. Acho que a paixão por cair no mundo vem daí. Mas como todo nova geração deve quebrar os protocolos, juntei a isso a paixão pela bicicleta, por superar desafios e deu nisso: essa ideia maluca, mas nem tanto, de cair por aí experenciando as coisas como elas vem. Conhecendo pessoas e lugares sem muita cerimônia ou protocolo.

Então é isso, o rolê promete!!!

É isso aí. Já nos primeiros momentos desse rolê percebia que o lugar, as pessoas e tudo o mais que encontrasse pelo caminho seria uma experiência interessante e engrandecedora. Nos próximos posts, vou comentar o que deu certo, o que foi mais ou menos e tudo o que vivi. Espero que vocês gostem.

2 respostas para ‘Patagônia, o lugar para mudar tudo

  1. Não sei como é essa estrada, mas para quem se diverte pedalando na estrada da Petrobrás, isso aí parece ser passeio no parque! 😀

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